Wednesday 31 August 2005

O Mundo numa cesta

«Antes de irmos de férias a avó vem cá almoçar a traz o almoço, queres vir?», disse-me a minha mãe.

Imaginei várias sandes, porque a minha avó é de trazer tipo umas sandes de ovo, ou carne assada. Aceitei porque o horário estava a favor e gosto sempre de ver a minha avó. Apesar de a conhecer, não estava preparada para o que veio a seguir.

Cheguei ao jardim de S. Pedro de Alcântara por volta do meio-dia, há lá umas mesas. Estavam os dois, avó e avô, frente a frente. Toalha posta. Beijinhos, como é que vais, e que tal a viagem, alguns telefonemas.

De repente a minha avó linda saca de uma cesta e começa a tirar tupperwares. Um com filetes, outro com tomate. «Levantei-me às cinco da manhã, já não conseguia dormir, e fui fritar os filetes», diz enquanto pôe a mesa. Saem pratos, talheres, guardanapos, pão, copos de plástico - a única coisa que esqueceu, mas que uma viagem ao café para comprar batatas fritas resolveu. Ataquei logo, não tinha tomado o pequeno-almoço.

Mas depois começam a sair tachos da cesta. Sim, no plural. Um com favas - «Já as fiz ontem à noite. Se quiseres tira mais, e um bocadinho de chouriço», outro com carne assada. Começo a ficar preocupada, a mesa já está cheia. Ainda há água e um garrafinha de vinho.

Chega a minha mãe já eu estou meio cheia. Ataco na carne, tirei favas só para ver como estavam boas, afinal até eram só para levar para casa.

Passam turistas cheios de água na boca ao verem este piquenique do céu.

Da cesta sai um bocado de queijo da Ilha. Depois sacos com pêssegos, uvas e pêras. «Come esta, que é grande e está pouco madura», diz ela.

Não aguento mais, mas da cesta ainda saem palitos «rainier», anuncia ela. «La reine», corrige a minha mãe. Não interessa.

Faltou a máquina de café naquela cesta, mas não lhe levo a mal. Fomos à Padaria de S. Roque, safou.

Amo a minha avó. De paixão.

6 comments:

Bruno Martins said...

Catano! Ainda hoje ao almoço enfardei carne de favas que me souberam pela vida. Fizeste-me lembrar os piqueniques que fazia com os meus padrinhos nas matas do Portinho da Arrábida, quando a minha madrinha sacava do tacho enrolado em jornal para manter quente o arroz de coelho... é só lembranças pá...

S.A. said...

Tb quero uma avó assim... (não há direito, estou aqui com uma fomeca... que só visto... ou melhor, sentido....)

Senador said...

Isso faz-me lembrar o farnel que a minha avó fazia quando íamos à terra! Dava sempre para dois ou três piqueniques... Que saudades daquelas pataniscas e que saudades dela!

elisa said...

Ahhhh, que estou quase a sair para almoço e fiquei cheia de vontade de comer as favas que não tenho em casa...eu é que me vou ficar pela sande de ovo:(!!
Beijinhos para ti e, se me permitires, um especial à tua avó!

Rosa said...

Ai, eu gostava tanto de ter uma avó para amar assim, de paixão! De preferência que fosse rechonchudinha e cheirasse a sabonete.

innocent bystander said...

hehe, ficou agora cheia de netos, ela que só me tem a mim! Mas fico contente por as vossas avós também serem assim, afinal é o papel delas é mesmo esse.
E que gostem de favas!
Rosa: ela, além de correr mais depressa do que eu, é rechonchudinha e cheira a creme hidratante. Aquelas mãozinhas sempre a mexer em facas e comida...