Tuesday 24 January 2006

Game, Set, Match II

Lembro-me de ir ao cinema com os meus pais. De ver filmes em estrangeiro e talvez seja por isso que quando fui para a escola preparatória, dez aninhos acabados de fazer, já sabia falar inglês. O Dias da Rádio, do Woody Allen, é dos que melhor me lembro. Tão delicado, tão divertido.

Mas entremos então no Match Point. Cumprindo a tradição, fui com a minha mãe. O Cine-Teatro do Monumental estava cheio, sobretudo de malta nova, tanto com curiosidade de ver mais um Allen, como para ver o desempenho da Scarlett, maravilhosa a rebolar no trigo quando está a chover. Eu só sabia que ela e o personagem do Rhys-Meyers tinham um caso e que ela era comprometida. Mais nada.

O filme começa e o primeiro plano é logo brilhante: uma bola que bate numa rede e fica suspensa do ar: não sabemos se cairá para o lado de lá, ou de cá, depende da sorte. E todos os acontecimentos do filme rodam à volta da sorte e do azar.

O protagonista vem de um meio pobre e cultiva-se, ouvido ópera e lendo clássicos. Curiosamente, lê o Crime e Castigo. A ascensão será rápida impressionante, mas sem esquemas por aí além. Quem leu, sabe que a história roda à volta de um homem, Raskolnikov, que comete um crime e depois vive atormentado por isso. Aqui, pensamos que vai ser assim também, mas a culpa é ultrapassável o castigo depende, mais uma vez, do azar ou da sorte.

Talvez por ser dia de estreia ou a malta fosse predisposta a rir-se, como é costume nos filmes do Allen, as reacções foram sendo bastante sonoras. Quando um casal visita uma casa e uma das paredes é toda de vidro com vista para o Tamisa, sente-se no ar um «que inveja, quem me dera!» Mais reacções de surpresa e admiração vão seguir-se ao longo do desenrolar da história. O climax surge no momento em que o protagonista leva a cabo a decisão que tomou para se livrar de um embróglio, ao som de uma intensa área de ópera. (É aqui o Otelo, Marujo?)

Às tantas até dá para esquecer que este filme é do Woody Allen. A única lembrança do estilo dos filmes de Nova Iorque é a referência a um casal que se juntou devido a ter «neuroses compatíveis», depois de se ter conhecido num acidente de trânsito.

No final, senti que a sala estava contente. Eu repetia para mim baixinho «tão bom, tão bom, que dez euros tão bem gastos» e só me apeteceu bater palmas, como se faz quando somos novos e um avião aterra em segurança. Pode ter havido quem tenha tido a mesma vontade, mas toda a gente se aguentou.

Agora vão ver, vá.

8 comments:

just me said...

Sim senhora!!! Irei este fim de semana!!!

Miguel Marujo said...

Sim, é, é aí o Otelo. ;)

Lisa said...

Tem graça, também tive vontade de bater palmas. E essa sensação de que a sala inteira estava satisfeita... Também a percebi.
Muito bom, ver cinema assim.

Calíope said...

Brilhante não é só quando a bola bate na rede, mas também a fabulosa repetição da cena com o colar ou pulseira na ponte. Na altura fica-se sem perceber se aquilo foi bom ou mau... Adorei o filme!

innocent bystander said...

just me: bora lá!

marujo: obrigada, como vês leio-te de toda a maneira e feitio.

lisa: giro, não é? nunca me tinha acontecido...

calíope: é uma aliança, mas não quero estar aqui a desvendar muito... essa é, de facto, uma grande cena. bem-vinda.

Beijos

Miguel Marujo said...

não sei se core, se fique com receio das asneiras... ;)

Jorge Moniz said...

E até aparece a expressão "innocent bystander".

innocent bystander said...

e.a.: aparece sim senhor!;-)