Sunday, 14 August 2005

Pódio da crueldade

1. Medalha de ouro: há muita gente cruel, mas ninguém como as crianças. E estas são cruéis porque dizem a verdade e nada mais do que isso, sem paninhos quentes. Não há a mentira bondosa, apenas as alcunhas feias, os degredados no recreio. Se não és giro não és fixe; se és gira entras no grupo, mesmo que comas os macacos que tiras do nariz;

2.Medalha de prata: depois temos os velhos, que acham que já podem dizer e fazer tudo porque já passaram por tudo na vida, incluindo passar à nossa frente na caixa do supermercado. (PS, alertado pela Little Arsonist: as velhas viram testemunhas de jeová)

3. Medalha de bronze: a seguir temos as gajas. Ah, que raça. Se gostamos somos amigas até à morte, contamos tudo umas às outras e quem se mete com a minha amiga ou pisa a mochila dela é como se pisasse a minha também. Mas se não gostamos somos as maiores cabras que for possível. Inclui um ódio inato à Catarina Furtado. (adenda: na maioria dos casos, ou pelo menos eu.)

Boa onda e a Liberdade no coração

Os U2 lá foram receber a Ordem da Liberdade e o Bono foi de camisa cor-de-rosa e chapéu, o Edge não tirou o gorro. Por mim maravilha. Tiveram que levar com o discurso do Sampaio, mas o Bono ele próprio também fez uma declaração comprida, bonita. Sampaio atribuiu-lhes depois a medalha, um por um.
Não pude deixar de sentir um arrepio - tal como todos os que estavam comigo na sala de olhos postos na TV, certamente - pela maneira verdadeira como pediu ajuda e falou para todos.
Fica-lhes bem, a medalha, ali ao lado do coração.
(foto Tiago Petinga/Lusa in publico.pt)

Saturday, 13 August 2005

Top cinco do momento

Fui esdruxulada.
Por isso calhou-me, com muito orgulho, aviar aqui uma lista. Estas coisas dos tops dependem muito da disposição e da memória. Por isso esta é que se consegue agora, em Agosto, mesmo assim depois de pensar uns minutos.

Idiossincrasias - as 5 menos:
Pessoas que dizem «É assim»;
Acordar cedo;
Que um locutor de rádio me trate por tu;
Condutores que usam os coletes reflectores nos bancos dos carros;
Camionistas (tenho de repetir esta, ok?); (ah, e mails de corrente....)

Idiossincrasias - as 5 mais:
As amigas que choram de tanto rir a recordar noites de copos na faculdade há muitos anos;
Comprar cds e livros e ficar sem espaço para os arrumar;
Elogios mesmo de pessoas que não conheço;
Que tudo se diga numa troca de olhares;
Jantar fora durante horas ;

5 albums:
Radiohead - Ok Computer (é o álbum da década, do século, sei lá)
Jeff Buckley - Grace
Pearl Jam - Ten
The Strokes - Is this it
Ornatos Violeta- Cão

5 canções:
Ben Harper - Opression
Jeff Buckley - you and I (ai que difícil escolher uma!)
Nick Cave - Red Right Hand
Interpol - C'Mere
Radiohead - Idiotheque

5 albums no IPOD ou outro (onde??!! vou também pelo carro):
Jeff Buckley - Grace
Interpol - Antics
Nirvana - Nevermind
Ben Harper - Diamonds on the inside
Smashing Pumpkins - Mellon Collie... (vol.2)

5MP3s na playlist (aqui no computador, tá?, uma selecção ainda muito parca, senão o dito não arranca):
Lambchop- I can't even spell my name
Jeff Buckley - Dream Brother
Interpol - Evil
Jeff Buckley- So real (pois, tem de repetir porque copiei o disco todo)
The Clash - Rock the Kasbah

Os 5 blogs para onde isto segue:
Ora então vai para as minhas lindas do Café Desconcerto (Misanderstood, Little Arsonist e La Torrrtura, já são três), mais o recém-chegado experimental , e o Marujo e sus muchachas.
Se quiserem, claro.

Thursday, 11 August 2005

Invenção vs distribuição

Cientistas completam mapa genético do arroz

«Um grupo de cientistas afirma ter completado pela primeira vez o mapa do código genético do arroz. Esta descoberta pode contribuir para tornar a produção do cereal mais barata e eficiente. (...) [O mapa] será usado para o melhoramento genético do cereal, tornando-o mais resistente e, consequentemente, aumentando sua produtividade. (...) “Este é um avanço de significado inestimável, não somente para ciência e para a agricultura mas também para todas as pessoas que dependem do arroz como sua dieta principal”, afirmou Joachim Messing, um dos cientistas envolvidos no projecto. Investigadores de dez países estiveram envolvidos na identificação dos 37.544 genes do arroz e no estabelecimento da posição de cada gene nos 12 cromossomas do cereal. De acordo com os cientistas, foram identificados alguns genes particularmente importantes que podem fazer aumentar a produção deste alimento, que segundo as Nações Unidas é responsável por 20 por cento da dieta alimentar a nível mundial.»
(in Publico.pt e estadao.com.br)

Tudo isto é muito bonito, não é?
Não me parece que falte arroz no mundo.
Ele existe, falta é que chegue onde é preciso.
Os cientistas, cheios de boa-vontade, dizem que isto vai ser porreiro para acabar com a fome no Mundo, mas eu desconfio um bocado.
Desconfio que o bonito arroz modificado, que deveria servir para ir para o Sudão e afins de modo a que as crianças deixassem de ter as barrigas inchadas, há-de aparecer nas prateleiras de produtos biológicos do Carrefour e do Continente. Ou nem isso.
A fome, essa, vai ficar onde está.

Choque de gerações

Ela, 25 anos fresquinhos:
-Olha, eu e o meu namorado estamos a comprar os DVDs do Serviço de Urgência, mas são tão caros!

Eu, bem-disposta:
-Pois, eu comprar séries acho um bocado desperdício, depois acabo por nunca ver. Se bem que gostava de ter aqueles do Verão Azul.

Ela, após uma pausa:
-Verão Azul, o que é isso?

-Hã?! Errrh...

Wednesday, 10 August 2005

Porra, pá, tava a ver que não!

depois dos Xutos, era isto mesmo que estava a faltar:

U2 vão ser condecorados por Jorge Sampaio com a Ordem da Liberdade

«O Presidente da República, Jorge Sampaio, vai atribuir a Ordem da Liberdade, no próximo domingo, aos quatro músicos dos U2, uma condecoração que distingue uma banda rock que colocou a fama ao serviço de causas humanitárias.

O rosto mais visível desse apoio é o vocalista da banda, Bono, que nos últimos anos se empenhou no perdão da dívida aos países mais desfavorecidos ou, mais recentemente, no combate à sida no continente africano.O envolvimento da banda ao nível da dívida do terceiro mundo, a associação às iniciativas da Amnistia Internacional, o apoio à causa da liberdade da Birmânia e ao povo de Timor-Leste foram outros motivos apontados por Jorge Sampaio para a atribuição da Ordem da Liberdade.
(...) A condecoração de Portugal é entregue numa altura em que a banda cumpre 25 anos desde que editou o primeiro álbum, "Boy", em 1980.»
(in publico.pt)

Consta que o Sampaio vai chorar, até vai cantar com eles o «Sunday Bloody Sunday» e o «Vertigo» no encore, e o Bono já nem consegue dormir.

O senhor das moscas

Sexta-feira a RTP vai transmitir um documentário da BBC sobre José Mourinho;
Parece que se chama «The Special One» mas foi apresentado como «Ganhe como eu»;
Que por acaso é o slogan do BPI;
Que por acaso patrocina o Mourinho;
Que por acaso patrocina o documentário.
Nada por acaso, isto dá-me vontade de vomitar.

E podem ter um cheirinho do porquê aqui

Drops de melancia

Entrei no carro, tocava «Diamonds on the inside», do Ben. Dá-me para revisitá-los quando vêm cá e eu não posso ir. Abri o meu último pacote de rebuçados comprado na Estónia. São de melancia, mas verdes tanto por fora como por dentro. E veio-me à memória aqueles dias de sofrimento ocular.
Tirando o facto de só haver três horas de escuro por dia, em Talin não há homens bonitos, não se viu nem um.
As miúdas sim, loiras (mas um loiro bonito, natural), altas, olhos claros, clara influência nórdica - aliás a Estónia é muito mais nórdica do que eslava. Os rapazes não, pararam no tempo e são todos iguais ao Tino, muito corados, cortes de cabelos inimagináveis, patilhas inenarráveis. Os taxistas são russos, na sua maioria, falam um pobre inglês.
Dei por mim a olhar para as raparigas, que remédio, uma vez que o rapaz mais bonito da cidade até era português e estava só de passagem, como eu.
Acreditem, fizemos o exercício de estar num café na praça central a apreciar as vistas, tipo teste, e eles chumbaram todos.
De qualquer maneira, se a intenção não é procurar romantismo (com rapazes, pelo menos), aconselha-se uma passagem por lá, sempre dá para comprar umas vodkas.

Descobri que...

o que me tira verdadeiramente do sério é que usem as minhas piadas. Enquanto eu ainda estou na sala!
Imaginemos assim uma coisa hipotética:
Estou na galhofa com uns colegas, a coisa até me está a correr bem. Digo uma coisa com piada, a gente ri-se muito e depois entra outra pessoa na sala.
E diz assim um: «olha estávamos aqui a falar de sicrano. Não achas que até coiso e tal e záspástrás, hehehe!!!»
Todos se riem muito, mas acontece que o záspástrás era a minha piada.

Não é giro. Roubar assim as piadas dos outros é foleiro; pior do que isso, é fatela.

Tuesday, 9 August 2005

Ou então não...

Bom, esqueçam quase tudo o que escrevi antes:
Fui enganada pela consulta ao mui sério Público (que tem falhado muito, diga-se), mas afinal o Psycho que está a dar é aquela versão do Gus Van Sant, que imita frame a frame o original. Comi o gelado e meti o DVD, que gaja prevenida vale por duas...
Ao menos o Discovery já aterrou.

Psycho-killer

A enxaqueca já se foi.
Logo, pelas 22.30, é hora de desligar as luzes, baixar a persiana, abrir a janela, arranjar duas bolas de gelado (light, claro) e ligar a TV no AXN.
Abre-se o pano para Psycho e para hora e meia de vertigem hitchcockiana. Depois dele os duches nunca mais foram os mesmos.

Euromilhões (IV)

Este faz parte de uma série começada no Café, mas não teve tanta aceitação como os outros que por lá andam, por isso fica aqui neste cantinho.
Só me consigo lembrar de duas palavras:
«Sim, mestre».

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(Ewan McGregor, foto celebrity-exchange.com)

Monday, 8 August 2005

Coisas que me tiram do sério [Conversa no Café]

- homens com unhas compridas;
- que não me agradeçam no trânsito ou não digam obrigado quando seguro uma porta;
- chamadas em espera;
- camionistas;
- telemóveis a tocar no cinema;
- sol nos olhos;
- sapatos apertados;

Sunday, 7 August 2005

Porque é que há livros que resistem?

1. Por falar em On The Road, ando há dois meses a ler o Big Sur do Jack Kerouac;
Estou a fazer um esforço enorme porque a escrita dele é complicada e isso irrita-me, mas quero ver se acabo. Comecei o On The Road/Pela Estrada fora, mas encostei-o rapidamente às boxes.
2. Não há direito. eu já sei que não vou conseguir ler na vida todos os livros que devia e queria, por isso é ainda mais chato quando um que a gente escolheu dá este tipo de luta;
3. Apesar de tudo o que está acima, consegui despachar há tempos o Crime e Castigo (Dostoievsky). Comecei e pousei-o pelo menos três vezes, mas algo naquilo me obrigava a continuar. À quarta vez, mesmo quase já sabendo de cor a primeira página (Raskolnikov sai de casa às escondidas para não ser apanhado pela senhoria...), consegui. Primeira vitória.
4. O Ulisses, do James Joyce, será o desafio mais aterrador até agora. Tenho-o há anos, assustou-me o último capítulo, páginas e páginas sem pontuação. Mas ainda tenho esperança.

On the road

Conduzia no meio dos incêndios ao mesmo tempo que usava o rádio do carro para sintonizar uma estação qualquer. Apeteceu-me - como muitas vezes acontece nas viagens grandes - percorrer todo o éter, deixar que todas as estações da zona tivessem os seus quinze segundos de fama. Acabei por parar na Antena 1 (bendito aquele que inventou o RDS, porque senão tinha que ficar a ouvir Tony Carreira ou pior) e numa música daquelas que a gente sabe que conhece, são épicas, já ouviu há muito, mas não sabe bem de onde. Depois de momentos de suspense para saber quem era e até ter pedido ajuda, a resposta veio. Era a sôdona Maria Guinot - da qual só me lembro de um piano e cabelo, muito cabelo -, e a música chama-se «Silêncio e tanta gente». Ganhou o festival de 1984, mas isto já é informação que não sei se é util...
Fica a letrinha, para ver se nunca mais me esqueço.

Às vezes é no meio do silêncio
Que descubro o amor em teu olhar
É uma pedra
Ou um grito
Que nasce em qualquer lugar

Às vezes é no meio de tanta gente
Que descubro afinal aquilo que sou
Sou um grito
Ou sou uma pedra
De um lugar onde não estou

Às vezes sou também
O tempo que tarda em passar
E aquilo em que ninguém quer acreditar
Às vezes sou também
Um sim alegre
Ou um triste não

E troco a minha vida por um dia de ilusão
E troco a minha vida por um dia de ilusão

Às vezes é no meio do silêncio
Que descubro as palavras por dizer
É uma pedra
Ou um grito
De um amor por acontecer
Às vezes é no meio de tanta gente
Que descubro afinal p'ra onde vou
E esta pedra
E este grito
São a história d'aquilo que sou

E troco a minha vida por um dia de ilusão

Nature Boy

Esta música já foi cantada por várias pessoas, como o Nat King Cole, o Caetano Veloso, o David Bowie e a Lisa Ekdahl. Em qualquer um deles soa maravilhosamente, por isso devia correr bem mesmo que eu a cantasse. Por enquanto só no carro, com a voz de um deles bem alto por cima:

Nature Boy

There was a boy
A very strange enchanted boy
They say he wandered very far, very far
Over land and sea
A little shy and sad of eye
But very wise was he

And then one day
A magic day he passed my way
And while we spoke of many things
Fools and kings
This he said to me
"The greatest thing you'll ever learn
Is just to love and be loved in return"

(Letra e Musica de Eden Ahbez)

Saturday, 6 August 2005

Ai não?!

Assim de maneira geral, não gosto de Pink Floyd nem de Rolling Stones.
Será apenas um problema de má colocação geracional, sou dura de ouvido ou apenas má pessoa?

Bom dia!

Daqui a um mês, espero acordar com vista para aqui:

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You and I

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Este rapaz que está ali abaixo na minha primeira foto chama-se Jeff Buckley.
Chamava-se.
Chamava-se porque morreu em 1997, quando preparava o segundo disco.
O primeiro, «Grace», de 94, é nada menos do que perfeito. (Sim, já sei que me acusam de só gostar de mortos - este, mais o Jim Morrison e o diabo, mas não tenho culpa).
Descobri-o depois de morrer, fica sempre uma sensação de impotência, de que ele podia e merecia ter feito mais do que desaparecer com 31 anos.
Saiu outro disco, «Sketches for my sweetheart the drunk», mas já não é dele, não é verdadeiramente dele. Tem músicas gravadas em casa, primitivas, ainda com o som do dedo no microfone a fazer de bateria. Foram escolhidas pela mãe e pelo Chris Cornell, grande amigo.
Saíram outras coisas entretanto, sobretudo registos ao vivo, uma vez que praticamente não há mais nada.
Eu gosto, gosto muito, tanto que confesso que cheguei a escrever para uma espécie de clube de fãs em Nova Iorque. Incrivelmente responderam-me, mandaram-me uma palheta amarela. Coisa nunca vista...
E compro, vou comprando, ouvindo e tentanto dá-lo a conhecer a todos os que apareçam à procura de boa música.

Untitled

Entristece-me muito que a expressão «não circunscrito» seja a mais usada por estes dias em Portugal.